quinta-feira, 11 de março de 2010

“SINHÁ MOÇA” – UM LIVRO, UM FILME E UMA NOVELA INSPIRADOS NA HISTÓRIA ABOLICIONISTA DE ARARAS

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Em 13 de março de 2006, a Rede Globo colocava no ar pela segunda vez, a novela de época “Sinhá Moça”. Muitos ignoram – exceção feita aos mais antigos, historiadores e aos que leram o livro do Alcyr Matthiesen, “Araras - Retratos da História”, – mas a novela, cuja primeira versão foi em filme, tem a ver com Araras e a história de seu movimento abolicionista. Em março de 2010, após o grande sucesso do remake de 2006, a mesma emissora decidiu reapresentar no horário vespertino em “Vale a pena ver de novo.”

Sinhá Moça foi adaptada do livro homônimo da escritora Maria Dezonne Pacheco de Fernandes. A novela, no entanto, foi um remake do escritor Benedito Ruy Barbosa, e a primeira adaptação, também dele, é de 1986, para a mesma rede de televisão, tendo como protagonistas, a famosa dupla de renome internacional, Lucélia Santos, como Sinhá Moça, e Rubens de Falco, como Barão de Araruna, e também o ator Marcos Paulo como Rodolfo. Na última versão, os atores eram Débora Falabella, Osmar Prado e Danton Mello, respectivamente.
A escritora (foto, década de 1950), nascida em Itu e 8 de dezembro de 1904, residia em Araras na primeira metade do século XX, na fazenda Araruna, de propriedade de seus avós, próximo à estação do Elihu Root. Sua mãe, Clarinda, era ararense. Faleceu em 2 de março de 1998.

A novela foi uma ótima oportunidade para os ararenses conhecerem um pouco mais algumas facetas sobre a história da abolição local, pois, como veremos, ela teve inúmeras de suas passagens inspiradas nos fatos que ocorreram aqui na década de 1880. Dez anos após o lançamento do livro (1942), já grande sucesso e em terceira edição, ele foi finalmente adaptado para o cinema, por obra do cineasta Tom Payne, e é sobre o filme que iremos falar agora.

Tudo começou quando Franco Zampari – o pioneiro do cinema brasileiro – instou a autora a ceder os direitos para adaptá-lo ao cinema. Após uma reunião em Araras da escritora com o pessoal da Vera Cruz – uma espécie de versão brasileira de Hollywood – as filmagens tiveram início em junho de 1952. Parte do filme foi financiado pelo marido da escritora, o senhor João Pacheco Fernandes, que era presidente do Banespa na época. Foi uma das produções mais caras da Vera Cruz, pois visava atender também o mercado internacional. (foto, Eliana Lage como Sinhá Moça). As fontes se contradizem nas informações sobre o sucesso do filme – uns dizem que teve uma fraca bilheteria, outras que chegou a superar o famoso “O Cangaceiro”, que havia batido recordes de público.

Maria Dezonne, em fevereiro de 1952, em depoimento ao Jornal da Noite, da Capital, se referindo ao livro, afirmou:

A mucama Virgínia
“(...) trata-se de um romance verdadeiro (...). Não é obra fictícia. Fi-lo na fazenda de meus pais, em Araras, num recanto bucólico, onde só tinha como confidente a velha Virgínia, hoje com 77 anos de idade e que foi minha grande auxiliar na reconstituição das cenas históricas ao natural. (...) a mucama Virgínia do meu romance é a mesma que viverá seu próprio e autêntico papel no filme. Ela acompanha a minha família há mais de 50 anos, tendo sido filha de escravos”.

A coleção Nosso Século (1985) traz um trecho de um depoimento da romancista “que aborda o movimento abolicionista em tons cor-de-rosa”:

"Sinhá Moça representa o que eu achei que todas as mulheres brasileiras deveriam sentir. Esse espírito de fraternidade (...); essa preocupação com os menos protegidos da sorte... E um símbolo, afinal, a Sinhá Moça ( ... ). Eu penso que o filme traz elevação, e leva ao estrangeiro o que nós temos de melhor, que é a nossa formação, a aristocracia dos nossos lares... Veja O Cangaceiro, apresentado no estrangeiro; é como um quisto moral, não é? Não mostra bem certo o que é verdadeiramente, o que foi verdadeiramente o Brasil...”

A escritora afirmou ainda que o barão de Araras, em 4 de abril de 1888, “foi o ilustre ararense o primeiro homem no Brasil a dar liberdade aos homens que mantinha em sua propriedade”. É provável que foi daí que nasceu a ideia equivocada na cidade de que Araras foi a primeira a libertar seus escravos no Brasil. Virgínia, que em entrevista ao mesmo jornal, disse ter presenciado a abolição em Araras, revelou: “Vinha vindo da escola, quando o sr. João Pedro de Souza, intendente de Araras, me disse no dia 13 de maio de 1888: ‘Hoje não tem escola. Foram libertados todos os escravos’”, e complementou corroborando sua patroa dizendo que o barão de Araras já se havia antecipado à Lei Áurea, libertando seus escravos de sua fazenda, a São Joaquim. Disse ainda que o dono da fazenda São Tomé acolhia generosamente os escravos das diversas fazendas circunvizinhas, e a molecada, em consequência, cantava este estribilho: “Seu Lourenço Dias, quero ver balancear só”. Em 6 de fevereiro de 1956, o extinto jornal Semanário de Araras entrevistou um cidadão ararense, de 89 anos de idade, que havia presenciado a abolição da escravatura em Araras, o senhor João Antonio Eliseu, nascido em 1875. Disse ele:

“– Recordo-me que naquele dia, o genro do Barão de Arari, sr. João Soares do Amaral, chamou os escravos e lhes disse: – De hoje em diante vocês não são mais escravos, vocês estão livres. Mas aqueles que quiserem continuar a trabalhar na fazenda podem ficar, e quem não quiser pode ir embora.”

Décadas depois, em entrevista concedida à Tribuna do Povo em julho de 1977, Maria Dezonne (foto recente) revelou que o filme foi “classificado em 1o lugar e laureado com os mais disputados troféus”. Foi premiado no festival de Cannes; em Veneza recebeu o “Leão de Bronze de São Marcos”; na Alemanha Ocidental, o prêmio “O.C.I.- Oficial Católico Internacional”; em Punta del Este”, a ‘Lanterna Simbólica’, oferecida pelo Vaticano; também o Medaille D’Honneur L’Ouvre Nationale Du Teatre Al’Hospital - Academie Ansaldi em Paris. No famoso festival de Veneza, onde o filme concorreu com “Moulin Rouge”, era a primeira vez que o Brasil havia sido premiado. Também foi premiado em Varsóvia, Berlim e recebeu inúmeros prêmios no Brasil.

Em 22 de agosto de 1954, houve no Núcleo Araruna uma festa em homenagem à autora e o elenco do filme, festa esta filmada pela TV Tupi. Um trecho do discurso feito pelo professor Vicente Ferreira dos Santos na homenagem, dizia:

“O enredo de ‘Sinhá Moça’ constitui um dos capítulos mais belos e sugestivos da história de Araras (...) realçando as cenas de tentativa de fuga dos escravos procedentes muitas vezes de longínquas paragens, almejando com ansiedade atingir nossa cidade, pois aqui estavam a salvo do cativeiro”.

Em outro trecho, se referindo à avant-premiere do filme no cine Santa Helena, falou:

“(...) os ararenses se sentiam emocionados, quando em um dos lances de grande intensidade emotiva, os pretos foragidos, em massa, com mulheres e crianças, perseguidos pelos ‘capitães do mato’ e pela polícia, repetiam a seus companheiros a frase, que tanto nos sensibilizou: – Em Araras, negro não é mais escravo”.

O já citado Jornal da Noite, vaticinando sobre o filme, afirmou:

“O final do filme será uma consagração, verdadeiramente apoteótica, aparecendo os escravos, já libertos, arrancando as correntes que ofereciam como dádiva a Deus, à frente da Igreja principal da cidade de Araras, enquanto os sinos repicavam em regozijo”.

A autora, numa entrevista ao programa "Fantástico" da Rede Globo gravada em 9 de maio de 1985:


SERIA O BARÃO DE GRÃO-MOGOL O BARÃO DE ARARUNA DA NOVELA SINHA MOÇA?

Em outra ocasião já tive a oportunidade de falar na Tribuna do Povo das maldades que o fazendeiro Gualter Martins Pereira – o lendário barão de Grão-Mogol (ilustração), da vizinha cidade de Rio Claro, praticava contra seus escravos, foi quando fiz a matéria O Folclore da Bananeira na Morte do Barão de Arari (9-2004). Recentemente, escrevi uma matéria sobre “Sinhá Moça”, o livro que deu origem ao filme e à atual novela da Rede Globo. Ocorre que novas pesquisas sobre o tema me levaram à descobertas curiosas e surpreendentes, de que irei tratar agora.

Acredito que muitos ararenses devam se perguntar: – Mas, afinal, quem seria o tal de barão de Araruna da novela? Em que a autora do livro se inspirou para compor o personagem? E Sinhá Moça e o Irmão do Quilombo, também existiram?
Pois bem: o senhor Cardoso Silva – um conceituado e idôneo radialista – que morou em Araras, e à época residia em São Paulo, lançou algumas pistas. Cardoso era escritor freqüente dos jornais ararenses da época, escrevendo sobre reminiscências e tipos populares de rua, aliás, era o seu assunto predileto. Sobre o filme, escreveu ele o seguinte sobre o filme no extinto Jornal de Araras (7-1953):

“Vou lhe prometer uma coisa: falar de algo que muito me orgulhou. E tudo por causa do ‘filme’ do Tom Payne que se chama ‘Sinhá Moça’, ainda em exibição por aqui. O nome de Araras dança e re-dança no enredo da história. Lembra passado do eminente Barão do Grão-Mogol – (e eu sei que você entra no cemitério de Araras e nem dá importância para aquele túmulo velho, esquecido, do ilustre cidadão, que ali ainda existe!) e transpira bravura de Lourenço Dias quando roubava escravos de todas as fazendas p’ra levá-los aos ‘palmares da fazenda São Tomé’.”

Caso o que escrevera Cardoso seja verídico, lembrando-se que a escritora nada afirmou disto em suas entrevistas, podemos concluir que ela se inspirara no tal barão para compor o fictício personagem da novela – o barão de Araruna –, interpretado pelo ator Osmar Prado (foto). Apesar de suas sabidas maldades, esse barão (que era mineiro, mas não era nenhum “come-quieto”, como veremos), em 26-10-1871, assinou uma ratificação passada em cartório, em que assegurava a liberdade dos filhos de suas escravas nascidos de 1871 em diante. Anos depois, em 21-2-1887, ele apresentou na Câmara de Rio Claro uma indicação que promovia a criação de um “livro de ouro, para concorrer com os seus irmãos no desenvolvimento da santa e humanitária idéia da libertação dos escravizados do município”. O pedido foi aceito e em 5-2-1888, ele dava liberdade total aos seus escravos, com 93 dias de antecipação à “Lei Áurea”, portanto, meses antes que a façanha do barão de Araras.

Cardoso se equivocou ao dizer que o barão de Grão-Mogol está enterrado no cemitério de Araras. Seu túmulo (foto), hoje jaz solitário em meio um terreno pertencente à fazenda Angélica, na verdade, um canavial à beira de uma estrada, bem distante da sede. E mais, segundo um depoente, o ararense Miguel Curtulo (85 anos, 2006), o barão foi enterrado no cemitério de Rio Claro, mas pouco depois, ele começou a aparecer à noite em sua fazenda como uma assombração. Diziam que ele queria se enterrado em suas terras, e a solução foi trazer seus despojos de volta, e enterrá-lo no cemitério da fazenda junto de seus escravos. Da família, o que se sabe, o único túmulo que se encontra no cemitério de Araras é o da baronesa, a senhora Emília Martins Pereira, que falecera aos 99 anos em plena demência.

Aos antigos dizem que o barão, depois que sua esposa enlouqueceu, passou a mantê-la trancafiada num sótão da casa-grande. Até há décadas atrás, se dizia que havia na parede desse sótão, o desenho do contorno de seu corpo, feito por ela mesma à giz, mas o reboco caiu e o desenho se perdeu, como eu mesmo testemunhei. O escritor Emílio Wolff, em seu livro Nosso Folclore (vol. II,1985), recolheu uma história que fala sobre a índole de um barão, a que não deu o nome, mas todos os indícios levam a crer que seja o barão de Grão-Mogol. Lê-se no texto: “O casarão da fazenda tinha três andares: Térreo: Senzala; Sobrado: Residência do Barão; Sótão: Prisão perpétua de sua esposa, a fim de poder cortejar lindas pretas escravas de sua propriedade" (foto). O excelente livro Rio Claro: Um Sistema Brasileiro de Grande Lavoura, 1820-1920, do pesquisador norte-americano Warren Dean (1977) traz o seguinte sobre o assunto: “Declaração feita pelo Sr. Pedro Rossi e Senhora, em Rio Claro, em 13 de dezembro de 1968. O barão, sob o falso pretexto de que sua mulher era demente, mantinha-a presa no sótão.”. No entanto, em 25-10-1931, o historiador ararense Vicente Ferreira do Santos, publicou uma matéria na Tribuna, onde resgatara um texto do mesmo jornal, de outubro de 1899, que dizia da situação em que se encontrava a baronesa: “Publica-se um edital de interdição da Baronesa de Grão-Mogol, que foi julgada incapaz de reger sua pessoa e bens. Assina-o o juiz de direito de Rio Claro, dr. José de Andrade Guimarães.”

O livro de Warren também dá conta de uma terrível realidade, a do famoso tratamento do barão para com suas escravas:

“Para algumas pessoas, indubitavelmente, a instituição da escravatura era uma licença para a satisfação dos desejos, fossem eles quais fossem. O capanga do barão de Grão-Mogol, um negro liberto baiano que continuou a viver na casa-grande da fazenda muito depois da morte do barão e da partilha de suas propriedades, deixava atônita a família de imigrantes que cuidava dele em seus últimos anos, com as histórias das orgias sádicas presididas pelo barão no seu porão, tendo como convidados todos distintos membros da elite local, e as escravas do barão, acorrentadas a postes e grades, como pièce de résistance.”

Em 1864, o jornalista e romancista francês Jean Charles Marie Expilly, que esteve no Brasil por longo período, publicou, em Paris, livro intitulado “Les femmes et les moeurs du Brasil” (Mulheres e costumes do Brasil), onde ele diz:

“(..) a escravidão entregava a mulher cativa ao capricho do homem branco, e tão natural isto se afigurava, como uma das conseqüências da vida das senzalas e das suas brutais tradições que, a circunstância de rodearem o agricultor-barão dezenas de mulatinho, filhos ilegítimos dele, não escandalizava, nem comprometia a gente austera”.

O mesmo texto de Wolff, traz outras revelações, mas como é um texto já publicado na Tribuna, faço um resumo dele aqui. Escreveu ele, que o barão, certa vez, cometeu uma maldade tão terrível que resultou em três mortes seguidas:

“Uma preta velha, que foi escrava da fazenda de café do Barão, contava que certa vez, uma escrava, de cesta na cabeça, uma criança nos braços e outra agarrada na saia, vinham em direção à senzala. Ao se aproximarem do lago, o Barão, que seguia seus passos, arrancou-lhe o filhinho e o jogou na lagoa. A mãe, desesperada, atirou-se na água para salvá-lo. Como não sabia nadar, morreram afogados, mãe e filho. A menina, que ficara em terra, instintivamente também foi ao encontro da mãe para morrer com ela.”

Não é de se duvidar que o barão, ao assassinar a criança, estaria dando cabo daquele que talvez fosse um provável filho seu com a escrava. Qual outro motivo? De fato, na atual novela, além de o barão de Araruna ter tido um filho bastardo com uma escrava – o mestiço Dimas –, houve um capítulo em que ele tentou abusar da negra Adelaide, a bela mucama de Sinhá Moça.

Outra passagem do texto de Wolff, também traz o seguinte: “Dizia-se ainda que, o Barão costumava matar a tiros alguns de seus escravos, por simples diletantismo, enterrando-os no cemitério da Fazenda”. Curiosamente, na mesma novela, um escravo revoltoso, é ameaçado de morte pelo barão.

O livro de Warren também esclarece: “diz-se que o barão de Grão-Mogol reconheceu 15 de seus filhos de escravas, todos os quais partilharam sua herança, a plantação da Angélica. Não se encontrou nenhum caso semelhante.” Warren, se fiando em trabalho de F. J. de Oliveira Viana (Populações Meridionais do Brasil), cita que este descrevia liricamente os barões como “garanhões fogosos da negrada”.

Um outro depoente, o senhor José Aparecido Begnami (85 anos, 2009), chegou a conhecer quando moço o célebre Tio Braz, um capanga do barão de Grão Mogol, e também chefe de escravos na fazenda Mata Negra. Das terríveis histórias que chegaram até nós sobre assassinato de recém-nascidos filhos de escravos e dos próprios escravos da fazenda, Tio Braz era o encarregado de muitos desses macabros serviços. Os adultos eram amarrados com pedras presas ao corpo e jogados um tanque que ficava para cima da fazenda Angélica, que, segundo Cidão, deve existir até hoje. Por essa época, era tudo fazenda Mata Negra, mas, depois, o fazendeiro e vereador José Ribeiro de Almeida Santos Filho comprou terras e abriu a fazenda Angélica. Tio Braz morreu com 120 anos, com as pernas comprometidas e infestadas de bichos-de-pé, que eram extraídos por um tal de “Bepão” Perinotto, usando-se a ponta de uma faca, momento em que Braz urrava e chorava de dor. Uma morte até branda para um homem que tanto mal fez aos escravos.

Quanto à personagem Sinhá Moça, não se sabe se ela foi inspirada na filha do barão de Grão-Mogol, a jovem Olinda, da qual não se têm informações. Porém, é provável que a cozinheira do barão – chamada “Ba” na novela –, seja inspirada em Virgínia, a empregada que narrou à escritora muitas das cenas reais utilizadas no livro , a negra, que no filme, interpretou seu próprio papel. Virgínia faleceu em São Paulo em 3 de dezembro de 1957 aos 82 anos, consternando o meio cinematográfico do país.
Agora, quanto ao “Irmão do Quilombo” (que um texto da Internet dizia que “parece o Zorro, com sua vida dupla, é bem verdade”), como vimos no texto do Cardoso, seria então o abolicionista ararense, o célebre Lourenço Dias (foto). Lourenço (1840-1898) tinha um quilombo particular em sua fazenda, a São Tomé, onde se reuniu mais de 400 escravos – o “palmares” ararense, a que se refere Cardoso – onde recolhia os escravos que fugiam de outras fazendas locais e da região – é somente o que afirmaram os historiadores locais, mas dizer que ele abria senzalas das fazendas na cidade na calada da noite para libertar escravos, como acontece na novela, só a autora do livro poderia confirmar, no entanto, ao contrário do que eu afirmei na última reportagem, a escritora Maria Dezone Pacheco de Fernandes já falecera.

De acordo com a tradição e a memória oral resgatada pelos antigos escritores, tanto barão de Grão-Mogol quanto o barão de Arari, por terem sido maus para com seus escravos, quando faleceram, o corpo de cada um desapareceu e em seu lugar, tiveram que colocar um tronco de bananeira no caixão para que pudessem realizar o enterro – um fato folclórico comum em muitas regiões do Brasil.

Por fim, não nos esqueçamos o que comentou dona Mariazinha à respeito de seu livro “Sinhá Moça”, em depoimento ao paulistano Jornal da Noite (2-1952):

“trata-se de um romance verdadeiro (...). Não é obra fictícia. Fi-lo na fazenda de meus pais, em Araras, num recanto bucólico, onde só tinha como confidente a velha Virgínia, hoje com 77 anos de idade e que foi minha grande auxiliar na reconstituição das cenas históricas ao natural. (...). Ela acompanha a minha família há mais de 50 anos, tendo sido filha de escravos”.


CURIOSIDADES SOBRE O FILME

– A estação do Elihu Root (foto, 1995), foi imortalizada como estação Araruna no filme, em que não só aparece como também foi usada para o transporte dos atores. Houve uma cena marcante, aquela em que ocorre uma tentativa de desembarque de tropas na estação para sufocar a rebelião dos escravos, e que foi frustrada por um grupo de mulheres que compareceu à gare, impedindo a ação dos soldados;

– Para as filmagens, a Vera Cruz construiu um cenário representando “a praça de Araras, a Igreja local, além dos demais pontos de referência do filme”. Sobre o estado da fazenda na época da filmagem, o Jornal de Araras escreveu: “Pode nossa reportagem ver o lugar onde ficava o tronco, e em companhia da homenageada, visitar as ruínas da antiga sede. A senzala, vimos de passagem, devido estar longe da antiga sede.”;

– Os atores principais de Sinhá Moça eram Anselmo Duarte (O Pagador de Promessas), Eliane Lage (esposa do cineasta Tom Payne), e a atriz Ruth de Souza (foto), que foi a primeira artista brasileira a ser indicada para um prêmio em Veneza, só perdendo por dois votos para Lili Palmer, atriz do filme “Leitos Nupciais”. Dentre as outras atrizes na disputa do melhor prêmio, estavam nada mais nada menos que Katherine Hepburn e Michele Morgan, fato que, por si só já constitui um prêmio. Matéria de capa da conceituada revista Manchete em 16 de maio de 1953, Ruth foi considerada a maior atriz negra do Brasil;

– O poeta modernista Guilherme de Almeida – o “Príncipe dos Poetas Brasileiros” –, que viveu sua infância em Araras, foi um dos responsáveis pelos diálogos adicionais do filme;

– O crítico de cinema da Folha de São Paulo, José Geraldo Couto,analisou o filme: “‘Sinhá Moça’ apesar de ser produção de época, misto de épico e melodrama, e de se ressentir da artificialidade dos diálogos, continua vivo por conta do dinamismo da montagem, da iluminação e dos movimentos de câmara. A seqüência final, espécie de Carnaval à luz dos archotes pela libertação dos escravos, mantém seu impacto dramático e visual”;

– O presidente Lula, em 2003, em conversa com o ator José Wilker sobre os novos projetos deste à frente da Agência Nacional de Cinema, confessou ao ator seus gostos cinematográficos, e disse ser fã do filme Sinhá Moça.

– O filme foi relançado em 2004 em DVD, no primeiro volume da “Coleção Vera Cruz”, junto de “Tico-Tico no Fubá” e “Uma Pulga na Balança”;

– O ator Anselmo Duarte, falecido em 18-10-2009, não filmava desde 1979, quando dirigiu “Os Trombadinhas”, filme produzido e interpretado por Pelé. Costumava reclamar do pessoal do Cinema Novo, afirmando que preferiu ficar longe do cinema, vivendo um exílio voluntário: “A inveja pela Palma de Ouro desencadeou um processo de aniquilamento, iniciado pelo pessoal do Cinema Novo e que fez com que me sentisse sem ambiente no Brasil”, comentou ele em entrevista ao Estadão em 1999.

BIBLIOGRAFIA (24 fontes)

*Atualizado em 22-11-2010
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sábado, 27 de fevereiro de 2010

NOVAS FRASES DO HUMOR DO V-NEWTON

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DESDITADOS

Alegria de tamanduá é morrer com a boca cheia de formiga.

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CASTIGO

Você pode até tomar a terra dos índios, mas as várzeas dos rios não se toma impunemente, mesmo porque as enchentes não deixam...

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CADA QUAL, CADA QUAL...

Atualmente, o taco de basebol norte-americano foi transformado em arma. Alguém dirá da vantagem do nosso futebol, onde a bola jamais foi utilizada como arma. Ledo engano: as armas, na verdade, estão com a torcida, que portam rojões, pedras, canos e barras de ferros, sarrafos, cadeiras, etc.

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ATINAÇÕES

Você reparou que o disquete já virou uma mídia analógica?

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AOS MODOS DE DAVE BERG

– Finalmente, nossa banda conseguiu sair da garagem!
– Que legal! E vão tocar aonde?
– No estacionamento do shopping...

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COMO DIRIA A RITA CADILLAC

– ...o problema do altar é número de degraus.
– Por quê?
– Devia ter uns 5 mil, pelo menos...

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DICAS

Não vai fazer nada? Não vai a lugar algum? Então, vá por aquela famosa ponte, aquela: a “que leva do nada a lugar algum”...

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ATINAÇÕES

Só existe uma pessoa mais idiota que o sujeito que inventou os agrotóxicos: aliás, um universo de idiotas: os agricultores que os utilizam.

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ATINAÇÕES

O pão está para a formiga, assim como a cigarra está para o circo.

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AOS MODOS DO RECRUTA MILICIANO DE BENGALA

É menos pior estar sentado numa cadeira elétrica que deitado numa cama de torturas, mas é menos pior estar em pé numa forca que ajoelhado numa guilhotina, mas é menos pior ainda estar em pé convalescendo que inutilizado numa cama, mas a morte, porém, é inigualável.

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REGRAS DO MINISTÉRIO DO EXÉRCITO

Militar servindo em Parada Gay: pode. Gay servindo em Parada Militar: não pode.

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SARARA, UMA CIDADE ÀS AVESSAS

Em Sarara, a paisagem canavieira ganhou estatuto de municipalidade. Esse negócio de “Cidade das Árvores” – que deveria se ponto de expressão privilegiada de todas as representações municipais –, não passa de balela e conversa mole para boi dormir.

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ATINAÇÕES

Faroeste à italiana é tão original quanto cangaço à chinesa.

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CURIOSIDADES POR OBRA DO BIÓLOGO V-NEWTON

Os pinguim está para o Pólo Sul assim como o urso branco está para o Pólo Norte. Lembrando-se da cerveja Antártica e seu pingüim, uma cerveja que se chamasse Ártica poderia estampar um urso branco em seu rótulo. Aliás, o único ser humano que viu pingüins no Pólo Norte foi o mentiroso Civilico, homem que, por sinal, nunca esteve lá... Mas... sabia que os pinguins já conseguiram alcançar a Bahia?!

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SARARA, UMA CIDADE ÀS AVESSAS

Os políticos sararenses interpretando a famoso lema ecológico, o do “Pensar globalmente e agir localmente”: Esse mundo é meu e na minha casa quem manda sou eu.

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CONVERSA PARA BOI DORMIR

A maioria das pessoas que vão a um restaurante self service, não se servem de verduras e legumes, pois dizem “Isso eu como em casa!”, só que, em casa, eles raramente comem isso...

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HIPOCRISIA

Pessoa que fuma e reclama da poluição, é a mesma coisa que a pessoa que cheira cocaína e reclama da violência nas favelas.

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ATINAÇÕES

Ir num restaurante em Cachoeira das Emas e comer peixe vindo de Mato Grosso, é o mesmo que ir à Minas e comprar terra à preço de alqueire paulista.

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PARRICÍDIO

Os trens foram destruídos pelas próprias cidades que eles ajudaram a construir.

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CONVERSINHAS INFAMES

– A morte desse padre prejudicou uma família inteira!
– Como assim?
– Ele tinha uma amigada e dez filhos com ela...

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BRASIL

68, o ano que não terminou. E tá assim de casalzinho sonhando louco cum 69...

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YO NO CREO IN BRUJAS

Eu jamais consulto horóscopos. Pessoas do signo de Aquário, como eu, não acreditam nestas besteiras...

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METAFÍSICA

Só Deus pode tomar (divinas) providências e tapar os Buracos negros.

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DITADO CAIPIRA

Sejas como a cana que adoça as moendas que a dilaceram.

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FUTEBOL FEMININO

O homem mata a bola no peito. A mulher, nos peitos.

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LÓGICA DE CAIPIRA

Antes os mata-burros, pinguelas e porteiras de outrora, que os pedágios, barreiras e portas-giratórias de hoje, que nem sempre nos deixam passar.

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POEMETO CAIPIRA

Das cidades, não quero as cidadanias,
Nem das vilas as vilanias,
Só quero do sertão as sertanias.

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CONVERSINHAS INFAMES

– Você gosta de dormir com chuva?
– Não.
– Por quê?
– Eu fico ouvindo-a e não durmo...

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UNIVERSIDADES

Temos Ciência o bastante para nos indispormos um com os outros, mas não Religião o suficiente para nos bem-queremos .

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sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

AS REINAÇÕES FUTEBOLÍSTICAS DO PAULINHO SUJEIRA

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Apesar de, atualmente, “saber de carteirinha” quem era este rapaz, não vou dar aqui dando o seu nome verdadeiro – não se faz necessário – mas vou recordar uma das reinações que ele aprontou, reinação esta que justificava o curioso apelido, muito apropriado por sinal: Paulinho Sujeira (foto). E tanto justificava que somente esta historiazinha que agora narrarei bastará para evidenciar o tipo de pessoa que ele encarnava, bem como uma das intenções incomuns que iam-lhe pela cabeça. Recordando o episódio novamente, sou capaz ainda hoje de imaginar a cara maquiavélica do Paulinho Sujeira, esfregando seus dedos enclavinhados, os ombros erguidos, e gargalhando como um perdido, todo orgulhoso de suas “façanhas”...


Foi no ano da graça de 1972. Desgraças também, como se verá... Local: estádio Joel Fachini, mais precisamente nas escadarias de sua belíssima arquibancada – aquela maravilha de rara arquitetura, que algum insensato mandou demolir ao invés de restaurar – a “picareta do progresso” do ararense não falha nunca!...


Nestes bons tempos, formávamos um grupo de crianças, todos com cerca de uma década de existência, e todos, sem distinção, completamente loucos por futebol. Éramos meninos puros e ingênuos, crianças que, até então, acreditavam piamente no chamado “leite da bondade humana”, e essa foi a nossa desgraça neste malfadado dia.


Todos os sábados de manhã, nos reuníamos no “Comercial” para treinar no então time infantil, o “Dente de Leite”. Nesta ocasião a que me refiro, um sábado, o desmiolado do técnico cometeu a imperdoável imprudência de esquecer a chave do vestiário alternativo que fazia fundos com as quadras da escola Cesário Coimbra (antes não esquecesse...). E para piorar, o uso do vestiário subterrâneo nos era vetado.


Mas, caramba, onde então iríamos nos trocar?! O técnico, após tentar abrir bestamente a porta do vestiário usando um canivete fornecido pelo juiz, sugeriu, pior, ordenou que usássemos as escadarias da arquibancada e, todos, puros e ingênuos, assim o fizemos...


Uma vez uniformizados, todos, sem exceção, orgulhosos de nossas camisas e chuteiras, descemos a escadaria e entramos finalmente no palco da peleja. Eu, todo feliz, estava estreando uma ultra-anatômica e macia chuteira Stadium de cravo-de-rosca que ganhei de meu pai. E estava orgulhoso, pois ia jogar como ponta direita e usando a camisa 9, camisa que eu fazia questão de usar pois era o mesmo número usado pelo meu ídolo do futebol na época, o não menos danado “Cezar Maluco” do Palmeiras (foto) – o timaço do grande “Divino” Ademir da Guia, a saudosa equipe do periquito verde – “porco” uma ova!


Uma lacuna aqui: a verdadeira peleja, como se verá, foi acontecer realmente – e em sua mais fiel tradução – lá nos recessos silenciosos da arquibancada, onde não havia um torcedor ou olheiro sequer, ou, pelo menos, se acreditava que não... Por esta altura, seria oportuno perguntar pelo tal do Paulinho Sujeira, e onde é que ele entra na história, mas já vou adiantando que dentre os pequenos desportistas, nenhum viu sequer a sombra dele por lá (antes o tivessem visto...)


A partida correu à mil maravilhas, acabando em empate, fato que se não alegrou ninguém, também não magoou. A mágoa mesmo os meninos só travariam contato com ela no retorno ao improvisado vestiário...


E o juiz soou o derradeiro apito. O sol já ia alto e muito quente e o melhor mesmo era deixar as intenções de um joguinho de “rêba” para outro dia e retornar à arquibancada, pegar a roupa e partir para uma ducha refrescante no vestiário, mas... caramba, o técnico havia esquecido a chave!


Pobres garotos, mal sabiam eles que este detalhe viria a ser um mal menor...


O que eu sei dizer é que quando os 22 futuros aspirantes ao juvenil, mais o infeliz do técnico, o juiz e um olheiro subiram a escadaria, não acreditaram com o que se depararam lá nos recessos da então silenciosa arquibancada - cena estarrecedora, a que se viu ali: dizer que aquele monte de roupas reunidas na arquibancada mais parecia uma banca de feirão em fim de expediente, seria fazer uma comparação mais que imperfeita.


O caseiro – o homem que cuidava do estádio –, que por aquelas horas havia se aproximado após ouvir o rebuliço que se instalou entre a molecada, disse que viu por entre a balaustrada da arquibancada um sujeito em atitude suspeita. Disse ainda saber de quem se tratava e bem conhecia sua fama, mas não lhe passou pela cabeça que ele estivesse sozinho ali (antes lhe passasse...)


Quando ele pronunciou o nome do tal sujeito, houve uma comoção entre os adultos, que se entreolharam com cara de desconsolo: era nada mais, nada menos que o terrível Paulinho Sujeira!...

A arquibanca do Comercial Futebol Clube em 1948


Não houve dúvida de que era ele mesmo o responsável por aquilo. E, vale dizer, o homem estava inspirado este dia... O danado teve a manha de reunir todas as roupas e outros objetos diversos, e, peça à peça, fazer uma maçaroca gigantesca com tudo! Nem mesmo os calçados, cintos e bonés escaparam de suas “urdiduras”. Deu nós-cegos nas pernas de calças, tomou fivelas de sapatos e tramou-as com alças de chinelos. Passou cadarços de tênis e botas por ilhoses de bonés e furos de cintos, e depois amarrou uma dezena de vezes – fez o diabo! Fez mais: aproveitou os pequenos rasgos de algumas calças e camisas, ou o furo de alguns tênis, tomou o laço da gola de uma camiseta, mais correntinhas, colares e penduricalhos, e improvisou cerzimentos sem conta. Fez mais ainda: pegou algumas daquelas velhas mochilas de napa e, de suas alças de cordonê, completou a urdidura reamarrando tudo o que já estava amarrado! O que eu sei dizer, caro leitores, é que não se vê com tanta freqüência emaranhados assim nem mesmo naquelas tranqueiras de galhos e cipós que se reúnem nas árvores baixas de curva de rio após as grandes enchentes do rio Mogi...


E quem disse que menino de 10 anos não chora por besteira? O berreiro que se abriu ali pelas escadarias causava pena, e a coisa só não pareceu um verdadeiro velório, por que dentre as lamúrias e choramingas soluçantes da meninada, se distinguia claramente uma enxurrada de palavrões da pior espécie, todo invariavelmente proferidos em memória do danado do Paulinho Sujeira. Suas orelhas devem ter queimado a valer neste dia.


Desenredar as infinitas tramas que ele urdiu é que foi elas – um imbróglio que cristão algum neste planeta seria capaz de desvencilhar. O canivete que o juiz trazia consigo teve
enfim alguma serventia, e acabou entrando em cena (ao menos isto...) Quanto ao esquecido, digo, o felizardo do técnico, o espertão, para variar, viera ao treino de carro já trajando sua roupa esporte... E se você prestasse bem atenção na fisionomia do “fiadamãe”, iria sugerir aos meninos que lhe destinassem um pouco de palavrões que praguejavam, por que, por dentro, o disgramado parecia rir a valer. Que ele merecia isso, ah, isso ele merecia! Quando vi muitas das peças de roupa e calçados destruídos em sem remédio, tive mesmo vontade de dizer: Molecada, manda a conta lá para a casa do fiadamãe desse técnico!


A propósito, um escritor ararense, o mestre Emílio Wolff, escreveu que, por volta dos anos 40, era comum entre as crianças que nadavam nos poços que existiam nas margens do Ribeirão das Furnas, “um deles sair das águas e, às escondidas, dar nós-cegos em todas as peças de roupa – o tradicional biscoito.” Este texto veio explicar que, em questões de tradições, o danado do Paulinho estava em dia e levava a bandeira adiante... Na foto, uma tarde de domingo no estádio Joel Fachini na década de 1950.


Caros leitores, este que vos escreve, falando assim parece que não foi vítima do Paulinho, não é? Eu não fui mesmo, e vocês vão ver o por quê.


Pois bem: justamente neste dia mais em que o Paulinho tramou uma das suas, por insistência de minha sábia avó materna, saí da casa dela trajado com o próprio uniforme de jogo e não levei uma muda de roupa...


Enfim, o que restou destes episódios futebolísticos foram as lembranças daquela saudosa década: o Paulinho Sujeira reinando nas arquibancadas e o César Maluco no palco dos gramados. E eu, por minha vez, após voltar a morar na cidade, me desiludi ao tentar integrar o time da A. A. A., e pendurei as chuteiras de vez me jogando de cabeça no mundo da música, porém,
infelizmente, não rezei pela sábia cartilha dos Novos Baianos, músicos que pregavam a união da música e do futebol.


Ah, antes que eu me esqueça: A benção, vó Ana!

.Negrito

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

HUMOR À FRANCESA, BÊTE ET MÈCHANT

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Criação: V-Newton

O sr. Veneranda chega ao portão da casa do Sr. V-Newton e toca a campainha. O sr. V-Newton atende:
– Bom dia, o sr. V– Newton está?
– Não sei, pergunte para mim.
– Espera aí, veja se eu entendi bem: o sr. V-Newton já chegou?
– A propósito, o sr. está falando comigo, sr. Veneranda?
– Oras, eu ignorava que o sr. sabia meu nome. De onde me conhece?
– Nunca vi mais gordo...
– Insisto, sr. V-Newton, o sr. está se referindo a mim?
– Não sei, pergunte para mim e responde, sr. Veneranda.
– Espere, vou tocar a campainha novamente.
– Um momento – parece que eu ouvi a voz dele atendendo o portão.
– Quem, o sr. V-Newton?
– Pode ser ele mesmo, mas, espera aí, sr. Veneranda: o que o sr. veio fazer aqui?
– Oras, eu combinei com o sr. de vir ligar esta campainha que não funciona?!
– Oras. Sr. Veneranda, eu estou entendendo tudo perfeitamente, mas vamos começar tudo de novo.

O sr. V-Newton vai para a rua, e o sr. Veneranda entra pra dentro da casa e novamente toca a campainha:
– Bom dia, sr. Veneranda, o sr. V-Newton está?
– O sr. está se dirigindo a mim, sr. Veneranda?
– Não sei, ligue lá para confirmar.
– Ligar onde?
– Oras, sr. Veneranda, ligue a campainha!
– Oh, me desculpe a vergonha que eu passei, mas... eu acabei de tocá-la e o sr. atendeu!
– Quem, eu?!
– Desnecessário dizer...
– Mas como eu poderia tocar a campainha, se é você que está do lado de fora?!
– Oras, o sr. ainda nem foi ver se o sr. V-Newton está em casa!
– Oh, sim, eu estou querendo ligar para ele, mas o sr. não deixa!
– Ligar o telefone?
– Não, a campainha!
– Olha, eu...
– Mas, afinal, o que o sr. faz, sr. Veneranda?!
– Eu trabalho na Telefônica.
– Mas eu não tenho telefone!
– Oras, mas eu vim arrumar a campainha – estou atendendo uma visita no portão. Mais tarde eu te contato.
– Com o telefone?
– Não, com a campainha!
– Oras, como o sr. pode me chamar se a campainha não funciona?!
– Tá bom, tá bom, então me telefone mais tarde!
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quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

NOVAS FRASES DE HUMOR DO V-NEWTON

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CONVERSINHAS QUE NÃO SE OUVE POR AÍ - I

– Foi você quem pediu a mão da minha filha em casamento, e me transformou em tua sogra! Eu não pedi isso; portanto, não reclame!

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FRASES PARA O DIA-A-DIA - I

Tem tanta pretensão quanto o planeta Mercúrio querendo fazer um eclipse com o Sol.

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DURA

– Até bicho-preguiça sabe nadar, e bem! E você não passa de uma bosta que afunda!

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PARA-CHOQUE DE CAMINHÃO

Está com pressa? Vai tirar o pai da Forca? Acordasse mais cedo!

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CONVERSINHAS QUE NÃO SE OUVE POR AÍ - II

– Jogo bola sim em campo cheio de buracos, desde que seja campo de golfe...

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A CARNE É FRACA...

Padre não pode ter mulher e filho – é proibido e fez voto de castidade. Mas às vezes ele não resiste e arruma uma paroquiana ou coroinha qualquer para prover fornicação.

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FAISÃO

É curioso notar que, no mundo animal, o macho seja mais vistoso e belo que a fêmea. Talvez seja por isso – em se falando de seres humanos – que as mulheres tenham que se enfeitar mais que os homens no jogo das conquistas.

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FRASES PARA O DIA-A-DIA - II

Mais assanhado que borrachudo em perna branca de gente gorda.

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CONVERSINHAS QUE NÃO SE OUVE POR AÍ - III

– Está vendo aquele cavaleiro?
– Sim.
– Ele foi gravar sua marca à ferro quente e levou um coice.
– Do cavalo?
– Não.
– Coice de quem, então?
– Da espingarda...

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GUERRA SANTA

Muitos santos, em carne e osso, morreram na fogueira pela mão de inquisidores. No entanto, mais santos ainda, os de madeira, arderam em chamas pela mão de iconoclastas.

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RELATIVIDADE

Fazer carne de soja é fácil; eu quero ver mesmo é fazer soja de carne.

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E PÕE REPARO NISSO...

Corintiano fanático é que merda de lagartixa: sempre de preto e branco.

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DITADOS READAPTADOS

Em casa de guitarrista enforcado não se fala em corda.

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CONSELHOS

Nunca elogie em demasia um recém-conhecido, até ter toda a certeza de que, um dia, ele não venha se tornar seu inimigo.

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SARARA, UMA CIDADE ÀS AVESSAS - I

O centro histórico de São Luiz do Paraitinga foi destruído pela força da natureza. O de Sarara, pela força da vil riqueza.

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ATINAÇÕES

Mulheres brasileiras são o tipo de pessoa que vivem sonhando com um bronzeado duradouro, mas o máximo que conseguem é um punhado de eternas sardas na pele prejudiada.

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BROTERADAS DE MINHA LAVRA

Terminário rodovial
Certimento de nascidão

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RECAUCHUTANDO FRASES

Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que colocas no cativeiro.

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DO MENTIROSO CIVILICO

– Ocê sabia que a linguiça é um porco no avesso?
– Como assim, Civilico, porco no avesso?
– Pois é: ocê tira a tripa de dentro do porco e dispoi enfia o porco dentro da tripa...
– !!!

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O CARRO OU A VIDA

Quem morre por não quere entregar o carro ao bandido, é porque o carro vale mais do que ele próprio.

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FRASES PARA O DIA-A-DIA - III

Os maiores gaviões são os que tem o canto mais fino.

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VIVÊNCIA

Quem tem decência, educação e hospitalidade, oferece. Quem não tem, tem que ser cobrado. Mas não é a mesma coisa.

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CONVERSINHAS INFAMES

– Sabe com quem está falando?!!!
– Não.
– Nunca é tarde! Prazer, eu sou o Zé Ninguém!
– Oh, então é você o tal de Zé Ninguém?!
– Exatamente...

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FRASES QUE NÃO SE OUVE POR AÍ - IV

Eu comi o rabo da sereia.

Promessas não são garrafas de champanhe, mas podem ser quebradas, em ocasiões oportunas.

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A 100 QUILÔMETROS POR HORA...

Respeito a natureza: numa estrada ao volante, dirijo menos rápido que um guepardo.

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SUTIS DIFERENÇAS

Assim como o ciclismo, querem que o bilhar seja um esporte. A diferença é que no ciclismo você leva uma garrafinha d’água, enquanto que no bilhar você se hidrata com cervejas e mais cervejas.

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SENSATEZ

O maior bem que posso deixar para os meus filhos é proteger a parte da natureza que hoje me cabe, e não deixar-lhes o dinheiro sujo que eu possa obter com a espoliação dessa mesma natureza.

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NOS BRAÇOS DE MORFEU

Meu sonho de consumo é consumir todos os meus sonhos.

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FRASES PARA O DIA-A-DIA - IV

Se refestelando feito irerê em dia de chuva criadeira.

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CHÁ DE COGUMELO

A principal característica do bife à rolê, é dar um rolê. É quando ele passa a se chamar bife à cavalo.

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ATINAÇÕES

Numa coisa todos os escritores brasileiros são unânimes e lamentam: “– Ô, Deus, por que cargas d’água o bendito do Euclides da Cunha era tão ruim de pontaria?!”

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CENA DE BAR

Um sujeito bebia no bar, e a cada novo copo, ele jogava um golinho no chão e dizia: “– Essa é pro meu santo!” Um outro copo entornado, e ele repetia a ladainha: “– Essa é pro meu santo!” A uma certa altura, alguém bateu nas suas costas e disse: “– Você querer que eu beba, tudo bem, mas me obrigar a beber lambendo o chão, não dá!”. Era o santo dele que havia aparecido...

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ATINAÇÕES

O que esperar de um país onde um padre – o padre Cícero – condecorou um bandido – o Lampião –, e um político – o Jânio Quadros – fez o mesmo com um fascínora – o Tche Guevara?

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RÉPLICA

O jovem que quiser ser mais nacionalista no que veste, não digo que deva abandonar estampas do Tche Guevara e usar estampas do Lampião – dois sanguinários ­–, mas sim usar imagens do Antonio Conselheiro. O que, você não sabe quem é Antonio Conselheiro?!

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SHOW DE FIM DE ANO

Você conhece o Braga Mora, cover do Roberto Carlos?

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CONVERSINHAS INFAMES - I

– Aquela estradinha ali no mato é a picada da cascavel.
– Como assim? Não estou entendendo.
– Aquela é a estradinha que leva à casa da minha sogra!
– Ah, bom!...

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SUPER-HERÓIS I

Até explicar para ele o porquê de o Homem de Ferro não passar na porta giratória de banco...

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SUPER-HERÓIS II

– Você gosta de cheiro-verde?
– Sim.
– Então cheira do cú do Hulk...

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SUPER-HERÓIS III

Eu nunca dei muita bola pro Batman, mas o pioneiro Clement Adler tentando voar com um aparelho em forma de morcego em 1903 foi o máximo! Santa invenção, Adler!

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ATINAÇÕES

Para os pássaros, os matagais dos terrenos baldios são mais importantes que as medíocres floreiras dos vasos.

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LUCIDEZ

As exceções que me desculpem, mas as regras são fundamentais.

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SARARA, UMA CIDADE ÀS AVESSAS - II

O que distingue os sararenses são as diferenças quantitativas e não as qualitativas: “quem tem mais que quem”, materialmente, do que “quem é mais que quem”, moralmente. O sararense é nada mais, nada menos, fruto do modo como se conjuga o verbo ter e ser.

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O BÊBADO E A MULHER FEIA

Me atirei no que vi, e arrematei o que não vi.

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CISMAS

Nos primeiros anos das conquistas espaciais, moscas-das-frutas foram enviadas nas espaçonaves. A pergunta que fica é: "- Estarão elas hoje revirando o lixo espacial?"

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VELHOS JARGÕES READAPTADOS

Nesta terra, em se desmatando tudo dá: cana de açúcar, café, soja, etc. Além disso, dá também assoreamento de rios, arbovírus, aquecimento global, tornados, secas, enchentes, fome, êxodo, queimadas, emissão de carbono, buraco na camada de ozônio, chuva ácidas, doenças respiratórias, empobrecimento do solo, voçorocas...

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OUVIDOS DE COBRA NAJA

Como o Nobokov e o João Cabral de Melo Neto, o sujeito era uma personalidade insensível à música.

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SARARA, UMA CIDADE ÀS AVESSAS - III

O porquê de a maioria de os ararenses serem tontos: é de tanto girar em volta do coreto da praça quando eram crianças.

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NÃO CONFUNDA

Não confunda a Amélia na cama com a Dama das Camélias.

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ATINAÇÕES

Em terra de cegos Argos é deus.

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RELÍQUIAS

Minhas tendências materialistas pendem para a nostalgia, a conservação e a afetividade, ao contrário da grande maioria das pessoas que tendem para o dinheiro, o luxo, o poder, a ostentação.

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SARARA, UMA CIDADE ÀS AVESSAS - IV

Sarara já foi uma cidade tão pequena que para ir do hospital ao cemitério era só atravessar a rua.

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ATINAÇÕES

Deus está em tudo e em todas as coisas, mas é na maioria dos homens que ele menos à vontade.

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NATURALIA

E por falar em nado borboleta, eis o peixe voador.

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CONVERSINHAS INFAMES - II

Hermeto Paschoal: – Vou fazer uma canja com galinhas, hoje, Jô.
Jô Soares: – Legal, Hermeto, mas me convida, hein - adoro canja de galinha.
Hermeto Paschoal: – Não é o que você esta pensando.
Jô Soares: – E o que é, então?
Hermeto Paschoal: – Eu vou fazer um som com as galinhas, Jô, vou dar uma canja...
Jô Soares (com riso amarelo): – Ãhhh!...

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SARARA, UMA CIDADE ÀS AVESSAS - V

Cristóvão Colombo provou que a Terra é chata nos pólos, mas ninguém precisa provar que Sarara é chata em todos os lugares.

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ATINAÇÕES

O meio mais eficaz de se certificar a respeito de o fato de que o homem que bebe mal também se alimenta mal, é analisar o seu vômito: ele não mastiga os alimentos...

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NÃO CONFUNDA

Não confunda a vida do Al Gore com a lida do Gore Vidal.

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ÓBVIAS ATINAÇÕES

Sou simpático aos mórmons que não veneram a cruz, por que ela é um instrumento de suplício e símbolo do sofrimento de Jesus. Fico imaginando o que seria dos católicos se Cristo tivesse morrido numa forca ou guilhotina...

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ATINAÇÕES

Para a ramela de nossos olhos, temos a nossa mão; para a meleca do nariz, os olhos alheios.

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AOS MODOS DE LOUIS PASTEUR

Cumpro meu destino biológico na Terra, não como devo, mas como posso.

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AOS MODOS DE MILLÔR

Eu não sou necessariamente contra a morte. Eu sou contra ser morto.

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AMOR

O filósofo Sarte disse: “O inferno são os outros”. E eu digo: “O paraíso é você!”

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CONVERSINHAS QUE NÃO SE OUVE POR AÍ

– Quanto eu pago por porco?
– Ãh?
– Quanto eu pago por cada!!
– O que você disse?
– Quanto eu pago pela porcada?!!
– Não entendi?
– Ah, vá pra pqp!!!

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CONVERSINHAS INFAMES - III

– As traças deviam estar com muita fome! Olha como destruíram esse livro meu!
– Livro do quê que era?
– Culinária...

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ATINAÇÕES

Se os índios, cada vez mais aculturados, começam a raciocinar como os urbanos, em breve irão reclamar à FUNAI de “matos sujos” por capinar, de pragas de mosquitos, cobras, baratas, ratos e escorpiões, e eis a natureza brasileira em sério perigo! Valei-me, São João Gualberto!

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CRAZY WORLD

Correr muito faz bem para a saúde. Carteiros e cachorros bravos estão aí para provar isso.

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SUTIS DIFERENÇAS

Coragem ativa: o jogar na cara, o meter o dedo no nariz – a coragem propriamente dita. Coragem passiva: a indireta, o falar pelas costas – a covardia dissimulada.

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VELHAS FRASES EM TEMPOS DE ECOLOGIA

Se a vida te der um limão, retire suas sementes e plante outros pés.

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ATINAÇÕES

O político estadista termina o muro iniciado pela administração anterior. O demagogo e populista derruba-o.

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CONVERSINHAS INFAMES - IV

– O Miécio Café e o Serginho Leite foram na padaria.
– Fazer o quê?
– Tomar um pingado...

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JEITINHO BRASILEIRO

A maioria esmagadora dos brasileiros é composta por tipos tão estúpidos, que, na falta de ônibus coletivos, ou ônibus lotados, eles protestam. E protestam depredando e ateando fogo... em ônibus!!!...

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NA FALTA DE UM RIO

Tá nervoso? Pega uma enxada e vai arrancar minhocas!

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NÃO CONFUNDA

Não confunda o pato que escarra sangue, com a sanguessuga do carrapato.

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COMO DIRIA O VELHO PORTUGUÊS

Sou daquele tempo em que se fazer conta de cabeça, era só colocar uma caneta atrás da orelha.

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